segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Idiota

Já terminei O Idiota! Dostoiévski é, como sempre, brilhante! O príncipe Lev Nikolaevitch Michkin é o “idiota” desta história. É um jovem e pobre príncipe que esteve, durante muitos anos, afastado da Rússia por motivos de doença (epilepsia). Quando regressa, aparentemente curado, entra em contacto com outra descendente da sua linhagem e assim começa a trama da história que se divide em quatro partes e cujo cenário é o da média-alta sociedade russa de fins do século XIX.
Este “idiota” fez-me lembrar, no ínicio da história, o Cândido de Voltaire, muito embora a época e as circunstâncias não sejam as mesmas. Mas o nosso “idiota”, na verdade, de idiota não tem nada, é até uma personagem bastante inteligente. Trata-se, porém, de um homem sincero e ingénuo que, não tendo noção da medida, diz o que pensa, sem olhar a etiquetas ou conveniências. O objectivo de Dostoiévski era o de «criar a imagem do homem positivamente bom». Quando o coloca em contacto com a realidade ele é visto como um idiota de quem toda a gente aparentemente gosta, mas que não conseguem parar de tentar enganar ou mesmo insultar. Na contracapa desta edição podemos ler que este foi um romance incompreendido na sua época. É fácil de perceber porquê, ele constitui um ataque não só à sociedade, mas ao próprio indivíduo que prefere viver de aparências em detrimento da realidade.
Como sempre na obra de Dostoiévski, em volta desta, existem muitas outras questões filosófico-morais que mantém a sua obra perfeitamente actual.

(O Idiota, Fiódor Dostoiévski, Editorial Presença, 2001, 638 pp, tradução do russo por Nina Guerra e Filipe Guerra).

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