sábado, 18 de abril de 2009

Desilusão



A chegada das novidades da Taschen é sempre um momento de angústia. Livros sobre Arte (tema muito caro a todos os participantes deste blogue) com uma grande qualidade de edição e a preços super simpáticos.
Numa febre recente sobre o Egipto resolvi ler o Egipto - Pessoas, Deuses, Faraós, da edição dos 25 anos da Taschen, que adquiri há uns tempos. Pois não há dúvida quanto à qualidade do papel, das imagens e do preço, mas já os textos deixam um bocado a desejar... Para além das muitas gralhas, o português é por vezes tão macarrónico que não conseguimos perceber o sentido das frases.

Deixo-vos com (apenas alguns) exemplos, todos tirados da mesma página, 17:

«(...) e os campos, outrora naturalmente adubadas (...)»

«Os antigos Egípcios não conheciam as causas das inundações. Quer dizer por que é que as águas aumentam no Verão e não depois da fusão das neves.»
«Foi preciso esperar até ao século XIX para que os exploradores penetrassem na fontes e (...)»
Para meu espanto, quando consultei a ficha técnica, descobri que para além de uma tradutora (Maria da Graça Crespo) esta obra contou com duas revisoras (Paula Nascimento e Cristina Oliveira)!!!

domingo, 12 de abril de 2009

Triste, mas verdade…

«Hoje, um leitor que queira mais do que as livrarias lhe oferecem é um detective à caça de raridades. Os livros têm agora data-limite, como os ovos. Se eu tivesse que começar a ler hoje, estaria necessariamente limitado por essas pilhas de novelas pseudo-históricas, pseudo-místicas, confessionais, esses géneros criados com o objectivo de o leitor acreditar que não é suficientemente inteligente para ler coisas mais profundas.» (Alberto Manguel, em entrevista ao suplemento «Actual», do Expresso, 11/04/2009.)

sábado, 14 de março de 2009

Bestiário para o regresso

Bestiário - tratado medieval, em prosa ou em verso, no qual se descrevem as características físicas e os costumes de animais, verdadeiros ou fantásticos, atribuindo-lhes, muitas vezes, significados algóricos ou morais.

Estamos de volta! As leituras têm andado um bocado desordenadas, já terminei o Bestiário há algum tempo... Na verdade é um pequenino livro de contos que se lê num instante (não, não ia recorrer àquele grande cliché «...lê-se de um fôlego...» ou «... não se consegue parar de ler...» que abundam nas capas dos livros) e sempre, ou quase sempre de boca aberta. Julio Cortázar escreve, neste livro, oito contos absolutamente desconcertantes. O mote – o bestiário – remete-nos logo para o realismo mágico tão típico nos sul-americanos, mas em vez disso, Cortázar surpreende-nos com um misto de fantasia e de surrealismo que nada têm de mágico. Mas o melhor destes contos é que também lá estamos nós, animais de estranhos hábitos, muitos preconceitos e grande dificuldade de comunicação e relacionamento com os outros. Como já se percebeu, é uma leitura cheia de surpresas, mas também de duplos sentidos e segundas interpretações. Abriu-me o apetite para o grande (assim espero) Rayuela.

Bestiário, Julio Cortázar, Publicações Dom Quixote, 1986, tradução de Joaquim Pais de Brito, n.º 7 da Biblioteca de Bolso Dom Quixote.