quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Maluquices 1 Chuck Palahniuk 0

O melhor que eu posso dizer sobre Lullaby é que poderia dar um grande filme. Na verdade poderia dar um filme tão bom como Clube de Combate, porque a história é, realmente, bastante criativa. O senhor até tem jeito para imaginar estórias e personagens bastante alucinadas, bem como para fazer o respectivo enquadramento das mesmas em cenários absolutamente inimagináveis. Consegue até fazer reflexões bastante interessantes, mas em termos literários deixa um bocado a desejar. As personagens são interessantes mas descrevê-las por tópicos numa lista estilo “carta ao pai natal” não torna a coisa muito boa de se ler (ex. Os detalhes sobre fulano são: cabelo a, olhos b, camisa c...), please! Eu até percebo as repetições de algumas ideias ao longo da estória, mas recorrer constantemente ao mesmo tipo de comparações/metáforas para descrever a cor do vestido da personagem principal... enfim, Palahniuk é definitivamente uma experiência a não repetir... a não ser talvez em adaptação cinematográfica!
Mas é preciso fazer uma ressalva, nem tudo é culpa do autor, o trabalho de tradução feito pela Srª D. Maria Dulce Guimarães da Costa também não é dos melhores – não tanto a má tradução mas o mau português, não ajudam a gostar do livro.
Mas sigo para outra aventura que aparenta ser muito mais interessante – A gente de July, da premiada Nadine Gordimer cujo início promete.

Lullaby – Canção de Embalar, Chuck Palahniuk, Editorial Notícias, 2004, 240pp.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A histeria dos filmes!

Cliente: Olhe, tem o Blindness? Em português.
Livreiro: ?? (muito a medo) será O ensaio sobre a cegueira do Saramago?
Cliente: Ah sim sim!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Os escritores também desenham

Fui ver «Desenhos de escritores» ao Museu Berardo no CCB. A exposição está quase a terminar mas vale a pena arranjar tempo na agenda para ver, penso que até ao próximo fim-de-semana...
Estão expostos muitos desenhos e algumas pinturas de diversos escritores - alguns nomes mais sonantes que outros, e enquanto alguns são apenas esboços feitos, imagino eu, enquanto descortinam algumas ideias para escrever, outros são obras de maior envergadura e com recurso a outros materiais. Gostei bastante da exposição e destaco apenas algumas obras: os dois casais de Guy de Maupassant, A Súplica de Prosper Merimée, o Auto-retrato Caricatural de Alfred de Musset, O Jogo do Escritor I e II de Ana Hatherly, o Auto-retrato de Almada Negreiros; feito a arame e tinta-da-china, e ainda o esboço para a capa de O linguado de Gunter Grass.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

sobre o....NADA

Esta obra retrata a vida de uma rapariga na Barcelona do pós-guerra (obra editada em 1945). Faz uma contextualização histórico-sociológica inevitável, mas é acima de tudo uma história de uma rapariga simples no meio de gente psicótica marcada pela guerra com todas as carências que dela advêm, ou não! As personagens, loucas, umas mais que outras, vivem perdidas num mundo que tem tanto de brutalmente real como de surreal. A narradora é quase levada na enchorrada dos acontecimentos absurdos, mas é uma figura de força, atrevo-me a dizer até, talvez um pouco biográfica.

(Nada de Carmen Laforet, Cavalo de Ferro 2005, tradução do castelhano: Sofia Castro Rodrigues e Vergílio Tenreiro Viseu, 265 pg.)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O dia em que Chuck Palahniuk conheceu os meus vizinhos

«Subindo através do chão, alguém está a ladrar a letra de uma canção. Estas pessoas que precisam da televisão ou da aparelhagem estereofónica ou do rádio a funcionar o tempo todo. Estas pessoas tão assustadas com o silêncio. Estes são os meus vizinhos. Estes viciados em som. Estes silêncio-fóbicos (...)
Isto é o que passa por civilização.
Pessoas que nunca deitariam lixo para fora do carro são capazes de passar por nós com o rádio aos berros. Pessoas que nunca nos atirariam fumo para cima num restaurante apinhado são capazes de gritar ao telemóvel. São capazes de gritar umas para as outras no espaço de um prato de jantar.
Estas pessoas que nunca utilizariam vaporizadores de herbicidas ou insecticidas são capazes de enevoar a vizinhança com a aparelhagem a tocar gaita-de-foles escocesa (...)
Aumentamos o som da nossa música para abafar o barulho. As outras pessoas aumentam o som da música delas para abafar a nossa. Aumentamos o nosso outra vez. Toda a gente compra uma aparelhagem maior. Isto é a corrida às armas do som (...)
O velho George Orwell percebeu tudo ao contrário.
O grande irmão não está a observar. Está a cantar e a dançar. (...) está ocupado a prender-te a atenção em cada momento que estás acordado. Está a certificar-se que estás sempre distraído (...) que a tua imaginação definha.
E isto de estar a ser alimentado é pior do que estar a ser observado. Com o mundo sempre a encher-te, ninguém tem de se preocupar com o que vai na tua mente. Com a imaginação de toda a gente atrofiada, ninguém será nunca uma ameaça para o mundo (...)»

P.S.: Não quero insultar ninguém, portanto, a ressalva: os meus vizinhos deitariam lixo para fora do carro...

sábado, 11 de outubro de 2008

Maluquinhos dos livros - parte dois

Acho que, pela primeira vez na vida, estou a ler o último livro que comprei. Lembram-se das minhas (muitas) manias de leitora... Eu não sou daquelas pessoas que vai à livraria e compra um livro para ler. Eu compro, de forma até algo compulsiva, livros que quero ler, mas depois de inicialmente folheados, vão para as prateleiras da minha biblioteca, e passam a constituir uma das minhas hipóteses de leitura. Portanto, quando eu quero ler um livro, vou às estantes de minha casa e escolho o que vou ler. Não vou à livraria... E há livros que eu quero muito ter, para os ler, o que não significa que os queira ler já, percebem?!
Ora acontece que, os últimos livros que comprei, foram descobertos na Feira do Livro de Vila Nova de Milfontes em fins de Agosto. Uma das aquisições foi o Lullaby, de Chuck Palahniuk, em promoção, autor que me deixou curiosa desde o filme Clube de Combate. Acontece também que, depois de O Idiota, estava a precisar de ler algo menos denso e eis que o Lullaby surgiu como hipótese... A ver vamos se é uma das manias a abolir...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Curta e fluminante

Estimado cliente: -Olhe eu queria um cheque-livro para oferecer, mas sem preço!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Eterna e duradoura sabedoria

Estimado (jovem) cliente – Bom dia, vinha ver se o meu livro já chegou...
Respeitável livreiro – Claro, qual é o livro, em que nome está... Sim, já chegou!
Estimado (jovem) cliente – Então vou levar, é preciso pagar?
Respeitável livreiro – É costume...

...................Sem comentários

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Os maluquinhos dos livros

Todos os leitores têm as suas manias. Eu tenho várias. Não pertenço à classe dos maluquinhos-dos-cantos-dos-livros-e-das-lombadas-perfeitas, pelo contrário, gosto, quando arrumo o livro na estante, que ele tenha aquele aspecto de livro-que-já-foi-lido, com a lombada meio torta e cheia de vincos e os cantos meio amassados. Mas não consigo ler o mesmo autor de forma consecutiva, mesmo que goste muito dele, mesmo que tenha mais livros desse autor em casa, mesmo que tenha como projecto de vida ler todos os livros desse autor. Depois também há os autores que estou a guardar, o Cossery, por exemplo, morreu este ano, deixou oito livros escritos dos quais já li (e adorei) quatro, mas e agora? não os posso ler todos, senão fico sem mais nenhum para descobrir... Percebem?!
Sempre que penso nisto lembro-me da brilhante introdução que Calvino faz em Se Numa Noite de Inverno Um Viajante (todo o livro é estupendo). São cinco ou seis páginas de pura ode ao leitor, ou se preferirem, aos maluquinhos dos livros. Ele condensa nessas páginas tudo o que um leitor é quando está a ler um livro. Fala da importância da luz, da posição das pernas enquanto se lê, da expectativa que temos quando iniciamos a leitura, ou mesmo antes, quando compramos o livro... Também retrata a ida à livraria como se de uma guerra se tratasse, com as ameaças constantes dos intimidatórios Livros Que Não Leste, dos Livros Que Se Tivesses Mais Vidas Para Viver Certamente Lerias De Bom Grado ou dos Livros Que Tens Intenção De Ler Mas Antes Deverias Ler Outros... É a síntese perfeita para nós, maluquinhos, sentirmos que não estamos sós...