quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Os maluquinhos dos livros

Todos os leitores têm as suas manias. Eu tenho várias. Não pertenço à classe dos maluquinhos-dos-cantos-dos-livros-e-das-lombadas-perfeitas, pelo contrário, gosto, quando arrumo o livro na estante, que ele tenha aquele aspecto de livro-que-já-foi-lido, com a lombada meio torta e cheia de vincos e os cantos meio amassados. Mas não consigo ler o mesmo autor de forma consecutiva, mesmo que goste muito dele, mesmo que tenha mais livros desse autor em casa, mesmo que tenha como projecto de vida ler todos os livros desse autor. Depois também há os autores que estou a guardar, o Cossery, por exemplo, morreu este ano, deixou oito livros escritos dos quais já li (e adorei) quatro, mas e agora? não os posso ler todos, senão fico sem mais nenhum para descobrir... Percebem?!
Sempre que penso nisto lembro-me da brilhante introdução que Calvino faz em Se Numa Noite de Inverno Um Viajante (todo o livro é estupendo). São cinco ou seis páginas de pura ode ao leitor, ou se preferirem, aos maluquinhos dos livros. Ele condensa nessas páginas tudo o que um leitor é quando está a ler um livro. Fala da importância da luz, da posição das pernas enquanto se lê, da expectativa que temos quando iniciamos a leitura, ou mesmo antes, quando compramos o livro... Também retrata a ida à livraria como se de uma guerra se tratasse, com as ameaças constantes dos intimidatórios Livros Que Não Leste, dos Livros Que Se Tivesses Mais Vidas Para Viver Certamente Lerias De Bom Grado ou dos Livros Que Tens Intenção De Ler Mas Antes Deverias Ler Outros... É a síntese perfeita para nós, maluquinhos, sentirmos que não estamos sós...

1 comentário:

Anónimo disse...

pois eu sou maluquinha,da classe dos cantos...antes de ser lido por mim, tem de estar lindo...Quanto ao livro"Se numa noite..." é lindo obrigada!!!