domingo, 16 de novembro de 2008

Morte na Pérsia

Annemarie Schwarzenbach, a autora da obra "Morte na Pérsia", escreveu sem um propósito final as «recordações» reunidas neste livro: "Por vezes pergunto-me por que razão anoto todas estas recordações. Porque quero dá-las a ler a estranhos? Porque quero confiar em estranhos ou, se não em estranhos, em gente próxima, bons amigos? Mas confiar o quê? É para mim claro que este livro não tem contém confidências.".
Embora "Morte na Pérsia", seja apresentado ao leitor como um relato de uma viagem, é improvável não sermos arrebatados pela imensa tristeza e desespero que tomaram conta de Annemarie.
Tendo fugido de uma Alemanha nazi, não consegue encontrar na Pérsia a liberdade que tanto procura.
As montanhas, as planícies, os rios só lhe devolvem medo, o desejo da morte, um fim. Não há sossego entre as palavras que nos descrevem ruínas arqueológicas, noites quentes de Verão passadas entre copos de vodka e fumos de haxixe. Um amor impossível por outra mulher, galga as páginas, um anjo persa, também ele entregue à solidão, a saudade de Annemarie de casa, ou o seu desejo de querer voltar sabendo que não o pode fazer, são em suma maiores do que tudo o que nos é dito sobre o Monte Damavand, Rages, ou Teerão.
Assim, "Morte na Pérsia", vale pelo testemunho humano partilhado, pela forma como explana o sentimento de desespero e terror que pode invadir um viajante solitário isolado de tudo o que conhece.

"Morte na Pérsia", Annemarie Schwarzenbach, Tinta da China, 2008, 142 páginas, tradução de Isabel Castro Silva.

sábado, 15 de novembro de 2008

Somos todos iguais...

A Gente de July tem como cenário a África do Sul e passa-se no ínicio do fim do apartheid. Um casal branco com os seus três filhos, para fugir à guerra civil, refugia-se na aldeia de July, o seu criado preto desde há 15 anos. O casal branco é-nos apresentado como crítico do apartheid e como sendo bons patrões. Ao abandonarem a sua casa para se esconderem numa aldeia longínqua onde as condições de vida são muito distantes das que conhecem, abandonam também o controlo das suas vidas, passando a depender do favor de July e da sua aldeia. July surge como uma personagem um pouco servil, toda a sua vida serviu os brancos para sustentar a familia que vê uma vez por ano. Mas surge também um pouco distante da “sua gente”, uma vez que é um dos poucos da aldeia que conhece a cidade e o modo de vida dos brancos.
Durante a estadia na aldeia de July, nós vemos uma realidade invertida, os brancos são impedidos de circular livremente na aldeia, por receio de serem descobertos, são incentivados a não participar nas actividades locais, estão impotentes para tomar decisões e deixam de ter controlo sobre os poucos pertences que lhes restam. Os habitantes da aldeia, no entanto, mantém uma atitude dúbia - não gostam de os ter lá, olham-nos com algum desprezo por não saberem cuidar de si sozinhos, mas toleram-nos, talvez por medo de que a situação no país não esteja segura...
Nadine Gordimer escreve um excelente romance sobre a situação vivida na África do Sul no fim do apartheid, mas escreve essencialmente sobre as relações entre brancos e pretos, dominadores e dominados e sobre a dificuldade em ultrapassar estas barreiras mesmo quando parecemos predispostos a fazê-lo.
A Gente de July, Nadine Gordimer, Editorial Teorema, 1986, 216 páginas, n.º 3 da colecção Estórias, tradução de Paula Reis.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Já agora...






Pronto, se vamos falar de ilustração infantil também quero dar uma achega!
Sandra Serra, Carla Pott...




Lisbeth Zwerger...




Catarina França...





Gréban...




... e Raquel Pinheiro!





É só para dizer isto mesmo!
ah! esta iliustração é Carla Nazareth, espreitem o blog!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

ILUSTRAÇÃO INFANTIL







Todos os dias esperam por mim nas estantes da livraria. Subo as escadas e na secção dos mais pequenos, ou não, "Cyrano", "Nasredin & o seu Burro" fazem-me sempre sentir vontade de os levar comigo no final do dia.
Hoje veio o melhor de todos, "Princesas Esquecidas ou Desconhecidas", estando ausente já lá vão uns largos meses "Apaixonados". Todos estes livros são ilustrados por Rébecca Dautremer, uma ilustradora fabulosa. Confesso que nunca me interessei por ilustração, muito menos pela infantil mas, desde que trabalho com livros, foi-me crescendo este bichinho. O bicho do livro infantil. Apenas porque são bonitos, coloridos, diferentes dos nossos livros de adultos. Não me atrai saber quem escreve ou ilustra, apenas gosto. De momento, o único trabalho que reconheço é o desta ilustradora. Sei que alguns de vós concordam comigo e, em especial, partilham deste pequeno-grande prazer. Quem sabe se não é neste Natal que podemos oferecer um livro à criança que há em nós?