sábado, 15 de novembro de 2008

Somos todos iguais...

A Gente de July tem como cenário a África do Sul e passa-se no ínicio do fim do apartheid. Um casal branco com os seus três filhos, para fugir à guerra civil, refugia-se na aldeia de July, o seu criado preto desde há 15 anos. O casal branco é-nos apresentado como crítico do apartheid e como sendo bons patrões. Ao abandonarem a sua casa para se esconderem numa aldeia longínqua onde as condições de vida são muito distantes das que conhecem, abandonam também o controlo das suas vidas, passando a depender do favor de July e da sua aldeia. July surge como uma personagem um pouco servil, toda a sua vida serviu os brancos para sustentar a familia que vê uma vez por ano. Mas surge também um pouco distante da “sua gente”, uma vez que é um dos poucos da aldeia que conhece a cidade e o modo de vida dos brancos.
Durante a estadia na aldeia de July, nós vemos uma realidade invertida, os brancos são impedidos de circular livremente na aldeia, por receio de serem descobertos, são incentivados a não participar nas actividades locais, estão impotentes para tomar decisões e deixam de ter controlo sobre os poucos pertences que lhes restam. Os habitantes da aldeia, no entanto, mantém uma atitude dúbia - não gostam de os ter lá, olham-nos com algum desprezo por não saberem cuidar de si sozinhos, mas toleram-nos, talvez por medo de que a situação no país não esteja segura...
Nadine Gordimer escreve um excelente romance sobre a situação vivida na África do Sul no fim do apartheid, mas escreve essencialmente sobre as relações entre brancos e pretos, dominadores e dominados e sobre a dificuldade em ultrapassar estas barreiras mesmo quando parecemos predispostos a fazê-lo.
A Gente de July, Nadine Gordimer, Editorial Teorema, 1986, 216 páginas, n.º 3 da colecção Estórias, tradução de Paula Reis.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns! Continuem!!! Beijos enormes. Especiais para a menina má