domingo, 16 de novembro de 2008

Morte na Pérsia

Annemarie Schwarzenbach, a autora da obra "Morte na Pérsia", escreveu sem um propósito final as «recordações» reunidas neste livro: "Por vezes pergunto-me por que razão anoto todas estas recordações. Porque quero dá-las a ler a estranhos? Porque quero confiar em estranhos ou, se não em estranhos, em gente próxima, bons amigos? Mas confiar o quê? É para mim claro que este livro não tem contém confidências.".
Embora "Morte na Pérsia", seja apresentado ao leitor como um relato de uma viagem, é improvável não sermos arrebatados pela imensa tristeza e desespero que tomaram conta de Annemarie.
Tendo fugido de uma Alemanha nazi, não consegue encontrar na Pérsia a liberdade que tanto procura.
As montanhas, as planícies, os rios só lhe devolvem medo, o desejo da morte, um fim. Não há sossego entre as palavras que nos descrevem ruínas arqueológicas, noites quentes de Verão passadas entre copos de vodka e fumos de haxixe. Um amor impossível por outra mulher, galga as páginas, um anjo persa, também ele entregue à solidão, a saudade de Annemarie de casa, ou o seu desejo de querer voltar sabendo que não o pode fazer, são em suma maiores do que tudo o que nos é dito sobre o Monte Damavand, Rages, ou Teerão.
Assim, "Morte na Pérsia", vale pelo testemunho humano partilhado, pela forma como explana o sentimento de desespero e terror que pode invadir um viajante solitário isolado de tudo o que conhece.

"Morte na Pérsia", Annemarie Schwarzenbach, Tinta da China, 2008, 142 páginas, tradução de Isabel Castro Silva.

1 comentário:

menina má disse...

Olá Dona Aurora, acabaste de começar um dos livros que constam do meu "Top Ten". Deixo uma dica, vai fazendo uma lista dos personagens, tipo árvore genealógica... só para prevenir!
Este "Morte na Pérsia" parece muito bom, ando com vontade de experimentar o "Paris"...