segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O dia em que Chuck Palahniuk conheceu os meus vizinhos

«Subindo através do chão, alguém está a ladrar a letra de uma canção. Estas pessoas que precisam da televisão ou da aparelhagem estereofónica ou do rádio a funcionar o tempo todo. Estas pessoas tão assustadas com o silêncio. Estes são os meus vizinhos. Estes viciados em som. Estes silêncio-fóbicos (...)
Isto é o que passa por civilização.
Pessoas que nunca deitariam lixo para fora do carro são capazes de passar por nós com o rádio aos berros. Pessoas que nunca nos atirariam fumo para cima num restaurante apinhado são capazes de gritar ao telemóvel. São capazes de gritar umas para as outras no espaço de um prato de jantar.
Estas pessoas que nunca utilizariam vaporizadores de herbicidas ou insecticidas são capazes de enevoar a vizinhança com a aparelhagem a tocar gaita-de-foles escocesa (...)
Aumentamos o som da nossa música para abafar o barulho. As outras pessoas aumentam o som da música delas para abafar a nossa. Aumentamos o nosso outra vez. Toda a gente compra uma aparelhagem maior. Isto é a corrida às armas do som (...)
O velho George Orwell percebeu tudo ao contrário.
O grande irmão não está a observar. Está a cantar e a dançar. (...) está ocupado a prender-te a atenção em cada momento que estás acordado. Está a certificar-se que estás sempre distraído (...) que a tua imaginação definha.
E isto de estar a ser alimentado é pior do que estar a ser observado. Com o mundo sempre a encher-te, ninguém tem de se preocupar com o que vai na tua mente. Com a imaginação de toda a gente atrofiada, ninguém será nunca uma ameaça para o mundo (...)»

P.S.: Não quero insultar ninguém, portanto, a ressalva: os meus vizinhos deitariam lixo para fora do carro...

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